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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Atividade para as turmas de 1º Ano matutino e vespertino - Profº Camila e Luiz Carlos (Lula)


Memórias — Teoria 

Memórias são textos produzidos para rememorar o passado, vivido ou imaginado. Para isso devem-se escolher cuidadosamente as palavras, orientados por critérios estéticos que atribuem ao texto ritmo e conduzem o leitor por cenários e situações reais ou imaginárias. Essas narrativas têm como ponto de partida experiências vividas pelo autor no passado, contadas como são lembradas no presente. Há situações em que a memória se apresenta por meio de perguntas que fazemos ou que fazem para nós. Em outras, a memória é despertada por uma imagem, um cheiro, um som.

        Esse tipo de narrativa aproxima os ausentes, compreende o passado, conhece outros modos de viver, outros jeitos de falar, outras formas de se comportar e representa possibilidades de entrelaçar novas vidas com as heranças deixadas pelas gerações anteriores. As histórias passadas podem unir moradores de um mesmo lugar e fazer que cada um sinta-se parte de uma mesma comunidade. Isso porque a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social ao qual pertence. Esse encontro é uma experiência humanizadora.

        O autor de memórias literárias usa os verbos para marcar um tempo do passado: pretérito perfeito e pretérito imperfeito. Eles indicam ações e têm a propriedade de localizar o fato no tempo, em relação ao momento em que se fala.

        O narrador em primeira pessoa é o narrador-personagem ou narrador-testemunha. No caso de memórias teremos, geralmente, o narrador-personagem, que tem por característica se apresentar e se manifestar como eu e fala a respeito daquilo que viveu. Conta a história dele sempre de forma parcial, considerando um único ponto de vista: o dele.

                                                                                   Geraldo  Canuto

O gênero memórias literárias

Memórias literárias são textos produzidos por escritores que dominam o ato de escrever como arte e revivem uma época por meio de suas lembranças pessoais. Esses escritores são, em geral, convidados por editoras para narrar suas memórias de um modo literário, isto é, buscando despertar emoções estéticas no leitor, procurando levá-lo a compartilhar suas lembranças de uma forma vívida. Para isso, os autores usam a língua com liberdade e beleza, preferindo o sentido figurativo das palavras, entre outras coisas.

Nessa situação de produção, própria do gênero memórias literárias, temos alguns componentes fundamentais: um escritor capaz de narrar suas memórias de um modo poético, literário; um editor disposto a publicar essas memórias; leitores que buscam um encontro emocionante com o passado narrado pelo autor, com uma determinada época, com os fatos marcantes que nela ocorreram e com o modo como esses fatos são interpretados artisticamente pelo escritor.
A situação de comunicação na qual o gênero memórias literárias é produzido marca o texto. O autor escreve com a consciência de que precisa encantar o leitor com seu relato e que precisa atender a certas exigências do editor, como número de páginas, tipo de linguagem (mais ou menos sofisticada, por exemplo, dependendo da clientela que o editor procura atingir).

Responda as questões a seguir:
  1. Para que são produzidos os textos de memórias?
  2. Qual é o provável perfil dos interlocutores, ou seja, quem escreve e para quem?
  3. Qual a temática dos textos de memórias?
  4. Qual a finalidade do gênero, ou seja, por que se escrevem textos de memórias literárias?
  5. Qual o suporte dos textos de memórias literárias, ou seja, onde são publicados?
  6. Os textos desse gênero são de cenários e situações reais?
  7. Quais os tempos verbais mais presentes nesse gênero textual? Por quê?
  8. Como é o foco narrativo nas memórias literárias? Explique.

Leia agora um texto retirado do site oficial da Olimpíada de Língua Portuguesa; lá vocês podem encontrar muitos textos interessantes de variados gêneros. Vale a pena a visita ao site! https://www.escrevendoofuturo.org.br/arquivos/9161/textos-finalistas-2019.pdf

Memórias literárias

Como puxar os fios da memória e entrelaçá-los em uma história? Neste capítulo, estudantes de 6o e 7o anos do Ensino Fundamental foram desafiados a recorrer a alguém mais velho da comunidade e transformar em texto literário as memórias de seu entrevistado. O Caderno do Professor, material de apoio da Olimpíada, ao definir o gênero Memórias literárias precisamente o sintetiza: “São textos produzidos por escritores que, ao rememorar o passado, integram ao vivido o imaginado”.
As próximas páginas nos enovelam em um sem fim de fios de memória, nos convidando a sentir o cheiro do capim pubo ou o doce da cana em contraste ao duro trabalho de um avô no canavial. A rememorar tempos de fartura de pequi em Taipas de Tocantins. A época em que Seu Santinho foi coveiro. A única TV que ficava na praça da cidade. O massacre dos índios cinta-larga. O rio Guandu como protagonista de algumas memórias, onde se lavavam panelas de polenta e se derramavam lágrimas que só Deus conhecia a razão. A saga de imigrantes alemães em um fusca 74, rumo ao Carnaval. O acordeão do pai que, mesmo cansado, embalava o baile da imaginação. Tantas e tantas memórias nos levam sobretudo a (re)lembrar que, como disse a entrevistada Silvana Cristina Soares Peguim: “O lugar onde vivemos nunca se acaba dentro de nós”.

QUASE UM CINEMA A CÉU ABERTO 

Débora Kelly Costa Bilhar

No meu tempo de criança, aparelhos de TV eram difíceis de se encontrar neste meu pequeno pedaço de mundo. Era como o céu sem estrelas ou Romeu sem Julieta. No limite dos limites, eram apenas duas televisões que faziam parte do nosso cotidiano. Mas uma de que me lembro com muita ternura era a TV pública de Vitória do Xingu, cidade que, naquela época, ainda fazia parte de Altamira. Como um aparelho tão pequeno pode trazer várias lembranças que, mesmo com as evoluções tecnológicas, não se apagaram e nem o tempo conseguirá apagar? Como e nem todos possuíam televisão, a prefeitura de Altamira doou uma para que todos assistissem na praça, onde era muito bom permanecer, era como se estivéssemos no aconchego de nosso lar. A maioria das pessoas não tinha condição, por isso ninguém pagava nada. Daí,todos tinham respeito por aquele pequeno momento em que dávamos audiência para os programas como novelas, filmes, jornais e até desenhos. A TV era de graça, as únicas coisas que gastávamos eram a nossa atenção, o silêncio e a nossa paixão por aquela telinha.
Na Praça dos Benjamins, onde a pequena miragem era colocada, havia várias árvores, os benjaminzeiros. O concreto quase não se via. Todos iam para se divertir, inclusive eu, que não ficava de fora. A alegria de participar daquele momento batia de porta em porta. Era um convite irrecusável. Cada programa, novela ou algo parecido que passava naquela tela era fantástico, era como se estivéssemos em um cinema, mas não muito grande. O nosso era a céu aberto. Poltronas não existiam, apenas o chão molhado por aquele banho do sereno. Se chovesse, o pequeno cinema acabava; se não chovesse, aqueles nossos pequenos olhos continuavam fixos na telinha. Porém, havia alguns eventos políticos ou festas que eram feitos na praça e interrompiam aquele tão esperado momento de audiência, causando inquietação nas pessoas, pois deixávamos de assistir para que eles ocorressem. Nós íamos para a praça assistir a partir da tardezinha, no momento do pôr do sol, até quando o motor de luz era desligado por alguém impiedoso, apagando as luzes que clareavam a cidade, deixando só as estrelas iluminando as poucas ruas e os muitos caminhos de volta para casa.
Chego a me arrepiar com uma triste lembrança daquela telinha, que foi parando gradativamente, com um novo acontecimento: as pessoas conseguiram suas próprias televisões, que já vieram com cenas coloridas e com a tela maior, deixando para trás as cenas divertidas. A união foi desaparecendo e o isolamento invadindo aquele saudoso lugar que, aos poucos, já estava recebendo pouquíssimas pessoas para assistir, deixando no local em que vivi apenas boas lembranças, emoções contínuas, mexendo com a cidade toda.
Houve também uma vez em que a TV pública foi roubada, mas comprada de novo; porém, o novo aparelho veio sem as cenas em preto e branco.
Meus olhos encharcados de angústia sofrem ao saber que nem tudo é a mesma coisa. Às vezes, penso que nossa cidade está sendo dominada pelas novas tecnologias que o mundo nos oferece.
Ai, que saudade que eu tenho daqueles meus tempos de criança, em que eu ia à praça com meus amigos, quando a felicidade reinava na Praça dos Benjamins e em todas as nossas vidas. Aquele bom local foi transformado pela falta de espectadores, e em seu lugar foi construído um palco maior, onde são exibidos shows e eventos diversos como o Fit Dance. Hoje em dia, a praça não é mais a mesma, as cenas em preto e branco são hoje coloridas, em HD, até mesmo em miniaturas que cabem na palma da mão, mas minhas recordações por aquele tempo e por aquele quase cinema a céu aberto continuam as mesmas.
O tempo foi passando, a cidade cresceu e o progresso aprisionou aquele passado sem nenhuma chance de fugir. Mas aquela TV ainda é capaz de me surpreender. É triste, mas ao mesmo tempo é alegre recordar aqueles bons instantes diante daquela telinha em preto e branco, que conseguia deixar a nossa vida cada vez mais colorida, mais gratificante. Por esse motivo, me sinto honrado por saber que fiz parte da história da TV pública da nossa cidade, às margens do rio Xingu.
* Texto baseado na entrevista realizada com José Santana Cardoso Abreu de Lima, de 57 anos

ATIVIDADE 2:
Através desse exemplo podemos perceber um pouco da importância de preservar as vivências e memórias individuais, que se tornam coletivas através do desenvolvimento de textos. Então, produza sua memória literária através de uma pequena entrevista, ou uma conversa informal, com alguém mais velho.


Referências:

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